Carlos de Almeida
Por Oscar D´Ambrósio – Os segredos da mulher
Muito já se escreveu sobre a beleza e o temperamento da mulher. Escritores dos mais diversos estilos e épocas já lhe deram os mais variados objetivos. Na pintura, corpos nus ou retratos aristocratas tornam centenas delas imortais, como bem mostram as telas Maja desnuda e Maja vestida, do espanhol Francisco de Goya, sempre ligado à figura histórica da Duquesa de Alba.
A mulher na escultura não fica atrás em número e qualidade de trabalhos, seja na robustez formal de um Rodin ou na delicadeza plena de agonia de Camille Claudel. O corpo feminino surge aa como intenso desafio, podendo ser apresentado em grande gama de materiais, desde a brancura do mármore até as diversas colorações de madeira.
Nascido em Panorama – SP, em 1963, o escultor Carlos Roberto de Almeida insere-se nessa tradição de respeito e valorização ao corpo da mulher. Suas figuras nuas brotam dos materiais com toda força, caracterizando-se por contornos precisos e de grande sensualidade. A curvatura das costas e o formato dos seios indicam um trabalho esmerado, de conhecedor de seu ofício.
O trabalho escultórico é o que existe de mais visceral nas artes plásticas. A construção de uma imagem, desde a sua concepção mental até o técnico, envolve também um desgaste físico digno de um maratonista. O esforço intelectual e o corporal caminham em paralelo, pois o trato com o molde, o gesso ou o entalhe demanda extrema dedicação a cada detalhe.
Almeida apresenta justamente um grande preciosismo na elaboração de cada imagem. Isso pode ser notado no acabamento. As figuras femininas parecem sair dos blocos de pedra em sua intensa beleza, assim como a deusa Afrodite saiu do meio das espumas do mar para se apresentar aos homens, cena mitológica imortalizada no célebre quadro Nascimento de Vênus, de Boticelli.
As formas perfeitas de Almeida tem algo de Renascentista, mas as curvaturas dos corpos denunciam uma grande ligação com escultura moderna. O corpo feminino é recriado com fim estético de apontar para a contínua possibilidade de busca de uma perfeição idealizada, talvez apenas possível no universo dos deuses.
As esculturas, geralmente limitadas à região física que inicia abaixo do pescoço e vai até pouco acima do joelho é propícia para ressaltar formas. A região do abdômen, onde é gerada a vida, é mostrada com extrema delicadeza, pois cada imagem feminina ganha nas mãos do escultor paulista o status de deusa.
É pelo seu trabalho escultórico que Carlos Roberto de Almeida confere à mulher uma dignidade encantadora. As figuras femininas a que dá vida são belas enquanto peças artísticas, mas, acima de tudo, parecem intocáveis pelo que tem de etéreo e religioso. Há nelas algo que leva o espectador quase a venera-las.
Na fronteira entre o sacro da adoração e o corpóreo da sensualidade, as esculturas de Almeida são inesquecíveis. Atraem pela beleza e desperta respeito. Próximas como uma pessoa e distante como um ser divino, exaltam a figura, as formas e os segredos femininos com delicadeza.
Mário de Andrade já disse que “a mulher é sempre um vir-a-ser até que encontre alguém que a faça ser”. Os trabalhos de Carlos Alberto de Almeida realizam essa passagem, cristalizando mulheres completas e complexas, que brotam de seu habilidoso trabalho.
Oscar D’Ambrosio, jornalista, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil) e é autor de Contando a arte de Ranchinho (Noovha América) e Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus (Editora Unesp e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo).